Sentado sozinho numa mesa de bar. As meias esgarçadas
reveladas pela calça encurtada pelo joelho dobrado e apoiado num banquinho.
Sozinho ele tamborilava os dedos na madeira enquanto a cerveja esquentava no
copo. Lia repetidamente os nomes rasgados na madeira envernizada e dava um
rosto diferente para cada um. O cigarro recém apagado no cinzeiro ainda tinha a
marca de batom da boca que a pouco o tragara. Guiou os dedos magros até a bita
e a levou a boca como um beijo. Enquanto sugava com força qualquer vestígio de
tabaco por um momento ele sentia o gosto daquela mulher. Os olhos procuraram na
mesa um nome, qualquer um. Samantha. Imaginou uma morena alta, cavala, de coxas
grossas e um traseiro excitante, volumoso. Sorriu sozinho revelando o aparelho
nos dentes e um corte na boca –vestígio de um beijo rasgado que havia ganho há
dois dias atrás. Respirou fundo e matou a cerveja morna, esticando no copo um
fio de saliva e o gosto de boca boêmia. – Manda mais uma, por favor. A mais
vagabunda. Essa eu vou beber para a Samantha.
Eu fui lá vender a minha alma que já esta coberta pela paz. Eu fui lá!
[Playlist: Toni Ferreira - Saber de uma alma]
;*