quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

 Não sei se começo dizendo que é muito bom estar de volta porque eu já não sou a mesma. 

Tanta coisa mudou e no meio de tudo que já não é o mesmo, no que mais tenho me esforçado para acolher é aquilo que eu nunca deixei de ser.

Janelas, mobílias e vidas outras. Questionamentos, dúvidas e desejos de sempre.

Me sinto numa espécie de redenção pessoal, os pés que por anos cuidei com hidratante de baunilha hoje sustentam calcanhares trincados e molhados, a água no fundo do poço não hidrata como parecia. 

Eu olho para cima e vejo a luz do dia e um céu azul que desacostumei a apreciar. Tenho toda uma parafernália ao meu redor, uns quadros, álbuns de memórias, algum dinheiro e escuridão. 

Aos 25 anos a tristeza tinha uma espécie de sedução que hoje, aos 30, eu vejo como placas sinalizadoras que de tão brilhantes, me impediram de ver o aviso de perigo. Eu nunca gostei de ser triste, mas a melancolia estava em tudo (e ainda tem um pouco dela aqui), mas hoje eu não quero sentir tristeza, quero me apossar da raiva, que, ela sim, pode me dar forças para escalar fundo-do-poço acima. Apesar de alguma tristeza, existe uma felicidade ímpar e saudosa de estar de novo escrevendo aqui.

Eu olho para cima e a água que molha meus pés me faz me sentir ordinária. Como eu pude descer tanto? Como eu pude achar que o fundo tinha algum limite? Aqui onde me encontro, preciso ser realista, nada nem ninguém me puxará, serão as minhas pernas que haverão de escalar até o topo novamente. A habilidade de olhar para cima e acreditar que o azul do céu pode acalorar a existência me refresca o olhar, me lembrando que nunca fui ordinária apenas.

E    X    T    R    A!



(Playlist: Los Hermanos - Adeus Você) 


Cuida do teu
Pra que ninguém te jogue no chão
Procure dividir-se em alguém
Procure-me em qualquer confusão
Levanta e te sustenta
E não pensa que eu fui por não te amar...

sábado, 22 de outubro de 2016

                  Eu fiz faxina para você entrar. Limpei cada canto de cômodos meus, troquei a roupa de cama para você descansar tranquilo na minha alma enquanto você perfumava os dias com seu bom humor.         
           As janelas eu deixei abertas, todas. Escancaradas para que você pudesse ver tudo que existia aqui dentro. Inclusive o lado de fora eu deixei disponível aos seus olhos, mesmo sentindo a sua criticidade em cada fitada. 
              Você chegou estranhando a bagunça que fazia tudo ter um pouco mais de sentido para mim, me ajudou a arrastar a mobília e deixar o espaço maior, mais prático e organizado. Eu ria sempre que via um pouco de brilho nos seus olhos ou quando você inventada de deixar só o bigode. 
             Eu tirei a poeira do coração enquanto você lustrou a prataria do desejo, me fazendo aprender a gostar daquela coisa que eu colecionava e exibia sem sentido ou afeto algum. Você pendurou os quadros, acariciou o gato e lavamos toda a roupa suja que pudemos. Demos juntos a nossa cara para a coisa toda e qualquer um que passasse por nossa fachada dizia: eles moram ali, um no outro.
               Mas você não quis ficar. 
            Saiu de mansinho com aquele mesmo andar de ombros retraídos e braços soltos que me deixaram outrora, e novamente eu não sabia como sair do lugar. 
            Você deixou para trás km de palavras em cartas que me sufocaram a sanidade e uma playlist musical tão sua que o som ecoou solitário e incisivo pelas paredes, trincando a pintura quase nova e os azulejos paratyanos. 
              Você quase nem cruzou a porta e eu só sei pensar:

                                   - Puta que o pariu, que saudade!


(...)


"...te escuto dizer tudo aquilo que me rasga, diga que não vai voltar e (não) me espere pro jantar" 


domingo, 20 de março de 2016

          Feito gata arisca e desconfiada que passa por um processo de domesticação e aprende, ligeira, a se esfregar em pernas e ronronar, ela tem a malícia do rabo ereto, em riste, e a suavidade do balanço sensual que é o andar de qualquer felino. Acima de qualquer suspeita! Aqueles peitos pequenos e o jeito inofensivo e até abobado de observar qualquer coisa que seja com a boca ligeiramente entreaberta são seu álibi natural.
           "Mas aquele esplendor depende de certo perigo. Sua agonia está misturada ao seu orgasmo. D i l a t a v a - s e. Fugia... Os medrosos estavam sempre um passo atrás. Ela tinha a coragem de explorar suas entranhas mais obscuras, tangenciava a margem entre a brisa e a tormenta. Sorria, chorava, era uma espécie de contorcionista na alcova. Mordaz! Daquelas que o coração rasga-lhe a garganta..."
          Qualquer um se assustaria, oras. 
          NÃO! Ele não. 
         Aquela nova presença familiar, o rock bar de outrora, história, estórias e... desconforto! (é como aquela coceira desgraçada que a gente não consegue parar de coçar)
E ele se fez    e s p e l h o . 

.............. MAS QUE MERDA É ESSA?

         Por trás daqueles olhos também havia uma multidão. Fez sentido então o porque das mentirinhas bobas e cotidianas que tanto o divertem. Ele é plural!!!! 
           O primeiro beijo foi com um, o primeiro choro com outro, a primeira foda com um terceiro e a noite de amor (acredite se quiser) com um quarto rapaz. 
            Formou-se então um grande caos, um mar de gente. Enxurrada! 
            E desde então sua promessa é cumprida diariamente: 

" - Sacio suas fantasias intelectuais. "

(porra!!!!!!) 

           Só eu sei a sensação de borbulha, de ebulição, que se faz em cada parte de mim quando o vejo vindo para perto, aquele já conhecido jeito de andar (braços soltos e ombros retraídos) e me pergunto: quem será ele agora?
Nossos vazios se esbarraram.
Nossa multidão se encontrou.
O ontem já foi
O amanhã não existe
Só vivemos o agora.
Ele lá.
Eu cá...
Cada um mergulhado em seus desejos e liberdade, subindo juntos para pegar um bocado de ar.

Eu não sou a personalidade que ele precisa. 
Eu sou o que ele é. 


"É porque é você, 
é porque sou eu."








(Playlist: Alt-J - Breezeblocks) 



sábado, 5 de março de 2016

      Espremi cada pedaço meu para ver escorrer qualquer coisa que me valha, e... Cadê as palavras? 
      Só doeu! Doeu, sangrou, pingou e novamente eu saí rebolando (eu sou mestre nisso). 
     Tudo o que eu quero dizer não sai. Sinto-me muda frente a alguém que anseia por uma resposta breve, sinto-me de mãos amputadas frente a uma carta escrita em braile que tem urgência em ser lida. 
      O que esperar de alguém que mesmo cansada, empapuçada, nunca quer ou nunca sabe a hora de ir para a casa? De quem acende um cigarro no outro, fazendo fumaça e sentindo prazer nos alvéolos sendo surrados por todo aquele veneno?! Foda-se os óculos esquecidos, deixa o sol queimar... A pele, a retina. Eu quero evaporar. Parecer mais leve e flúida, pois dessa forma em que me encontro fica difícil eu me engolir. 
Eu me revelo! (estou exposta)
Mal paga 
Mal frequentada
...
Mas isso é meu. Sou eu! 
Será que eu não gosto tanto assim de mim? 

 Acha exagerado o que escrevo? Pois você ainda não viu o que eu apago.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

        A tristeza que me cerca hoje é do vazio de não haver lembranças. Eu tento organizar qualquer vestígio seu para transformar em uma carta de despedidas, mas não há nada...
      VAZIO
      E enquanto a música sombria estupra seguidamente os meus ouvidos e idéias, meu peito parece querer explodir.
      Antes era só você aqui, e hoje, o desespero que me toma não faz referência à dor de não existir conteúdo seu.
       GAME OVER
...e daqui para frente é caminho sem volta...
       E quanto ao vazio que ficou, que me toma agora por todo e qualquer canto, esse vazio só me diverte. É bom saber que me resta ainda mais espaço desocupado para preencher com qualquer boca, qualquer saliva e corpo, qualquer nova diversão que me faça valer cada cm de desinteresse seu que um dia me contaminou.
       A linha que um dia desenhou um abismo, hoje se enrola em minha cintura e me carrega para longe.
...acho que é hora de dizer adeus...

                             Aquele beijo!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

            Essa estranheza vem sem pedir licença. Quando percebo sou qualquer pessoa entre Lenina e Cínthia e então minha pele se torna o abismo entre o que sou e o que quero ser.
            Diariamente me deito com um ser estranho. Eu não sei quem sou, sei que gosto de colo, de cuidar...
Cuidado!!
         Sou ruminadora de detalhes. Me enfio em bocas alheias para ser saboreada, mastigada, despedaçada e ser cuspida depois. Minha piração é encostar na pele e tragar a alma. Como não sei o que delimita o que sou, vou absorvendo existências e mosaicando o que sou com um pouquinho de tudo que gosto. A língua desliza na pele e os poros aflitos engolem e se invadem de cheiro e de dor.
Sniper de gente!
           Pessoa da categoria mais barata, que flagra teu sono e te clica indefeso. A coluna ereta feito rabo de gato em riste e vou vivendo a eterna busca de saber quem é o outro, para ver se numa desses encontros, esbarro em alguma versão minha que estanque esse mau estar
Sou esse i que grita, i de maldita!!
             E todo encontro se desencontra.
           Me deixa ser, ver, ter... E vamos juntos traçando verbos e inspirando versos que possam fazer da vida algo menos banal.
             Afinal, quem é você agora?
           Relaxa essas pernas, vai, me deixa ficar aqui fazendo carinho no teu saco. Ou você tem medo de intimidade? Te assusta esse silêncio que ecoa batendo nessas paredes e voltando para dentro de nós?
           Olha nos meus olhos, porra!!!! Olha bem para o que eu sou quando estou com você. Essa não sou eu.
          Eu sou uma pobre mulher aflita que busca o que nem sabe e que diariamente me deito estranha de mim digerindo vestígios de desencontros e de nós.
              Cuida da tua alma, garoto.
             Cuida da tua dor e cuidado comigo! (pois eu nem sei o que sou)


Assinado, alguém. 







(Playlist: Marilyn Manson - Mechanical Animals) 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Ás, Rei, Rainha, entrelinhas...

     As cartas estão postas!
     Mesa limpa, apenas os copos de bebida e as angustias.
     O fio lateral da calcinha preta quase ameaça cortar a pele branca, enquanto que do outro lado, o outro jogador aposta nú.
     Jogada feita, ela olha suas opções de contra-ataque, perdida entre números e naipes, enquanto ele parece totalmente controlado e nada aflito. Ela joga sua maior carta, inocente. Ninguém nunca te falou que nunca se arrisca tudo na primeira jogada? Acontece que ela resolveu ignorar toda e qualquer lição de blefe que aprendera um dia, em outras ocasiões. 
     As sobrancelhas dele se movem, e ele manda a próxima. Jogadores se entreolham, sorriem um para o outro, ameaçam se tocar... Ele respira e inspira compassadamente, enquanto que o peito dela parece querer explodir. Quais são as regras? Ninguém nunca te falou que as regras são combinadas antes de qualquer coisa? Tarde demais, já foi dado o PLAY. 
    Aérea, como se não estivesse ali, mesmo estando em alma, ela se confunde naquele baralho, enquanto que os dedos dele manuseiam as cartas com maestria. O outro jogador é surpreendentemente filho-da-puta! E o que o coloca nesse patamar não é sua malícia com o jogo, ele disse que não era um dos melhores, que até desconhecia as jogadas e ela sentiu verdade em suas palavras. Ele nunca mentia! O que o coloca nesse patamar é sua despretensão. Ele não quer ganhar, mesmo ganhando. Tem cretino maior do que um jogador que não sabe jogar e ainda ganha? 
      Jogo perdido! 1 x 0
      Ele sai da mesa estapeando as coxas e dando lugar para o próximo. 
     A lição da jogatina foi uma única: ganha aquele que no final, está pouco se fodendo em levar o troféu para a casa.


 (Playlist: Stephen - Crossfire)