quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

        A tristeza que me cerca hoje é do vazio de não haver lembranças. Eu tento organizar qualquer vestígio seu para transformar em uma carta de despedidas, mas não há nada...
      VAZIO
      E enquanto a música sombria estupra seguidamente os meus ouvidos e idéias, meu peito parece querer explodir.
      Antes era só você aqui, e hoje, o desespero que me toma não faz referência à dor de não existir conteúdo seu.
       GAME OVER
...e daqui para frente é caminho sem volta...
       E quanto ao vazio que ficou, que me toma agora por todo e qualquer canto, esse vazio só me diverte. É bom saber que me resta ainda mais espaço desocupado para preencher com qualquer boca, qualquer saliva e corpo, qualquer nova diversão que me faça valer cada cm de desinteresse seu que um dia me contaminou.
       A linha que um dia desenhou um abismo, hoje se enrola em minha cintura e me carrega para longe.
...acho que é hora de dizer adeus...

                             Aquele beijo!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

            Essa estranheza vem sem pedir licença. Quando percebo sou qualquer pessoa entre Lenina e Cínthia e então minha pele se torna o abismo entre o que sou e o que quero ser.
            Diariamente me deito com um ser estranho. Eu não sei quem sou, sei que gosto de colo, de cuidar...
Cuidado!!
         Sou ruminadora de detalhes. Me enfio em bocas alheias para ser saboreada, mastigada, despedaçada e ser cuspida depois. Minha piração é encostar na pele e tragar a alma. Como não sei o que delimita o que sou, vou absorvendo existências e mosaicando o que sou com um pouquinho de tudo que gosto. A língua desliza na pele e os poros aflitos engolem e se invadem de cheiro e de dor.
Sniper de gente!
           Pessoa da categoria mais barata, que flagra teu sono e te clica indefeso. A coluna ereta feito rabo de gato em riste e vou vivendo a eterna busca de saber quem é o outro, para ver se numa desses encontros, esbarro em alguma versão minha que estanque esse mau estar
Sou esse i que grita, i de maldita!!
             E todo encontro se desencontra.
           Me deixa ser, ver, ter... E vamos juntos traçando verbos e inspirando versos que possam fazer da vida algo menos banal.
             Afinal, quem é você agora?
           Relaxa essas pernas, vai, me deixa ficar aqui fazendo carinho no teu saco. Ou você tem medo de intimidade? Te assusta esse silêncio que ecoa batendo nessas paredes e voltando para dentro de nós?
           Olha nos meus olhos, porra!!!! Olha bem para o que eu sou quando estou com você. Essa não sou eu.
          Eu sou uma pobre mulher aflita que busca o que nem sabe e que diariamente me deito estranha de mim digerindo vestígios de desencontros e de nós.
              Cuida da tua alma, garoto.
             Cuida da tua dor e cuidado comigo! (pois eu nem sei o que sou)


Assinado, alguém. 







(Playlist: Marilyn Manson - Mechanical Animals) 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Ás, Rei, Rainha, entrelinhas...

     As cartas estão postas!
     Mesa limpa, apenas os copos de bebida e as angustias.
     O fio lateral da calcinha preta quase ameaça cortar a pele branca, enquanto que do outro lado, o outro jogador aposta nú.
     Jogada feita, ela olha suas opções de contra-ataque, perdida entre números e naipes, enquanto ele parece totalmente controlado e nada aflito. Ela joga sua maior carta, inocente. Ninguém nunca te falou que nunca se arrisca tudo na primeira jogada? Acontece que ela resolveu ignorar toda e qualquer lição de blefe que aprendera um dia, em outras ocasiões. 
     As sobrancelhas dele se movem, e ele manda a próxima. Jogadores se entreolham, sorriem um para o outro, ameaçam se tocar... Ele respira e inspira compassadamente, enquanto que o peito dela parece querer explodir. Quais são as regras? Ninguém nunca te falou que as regras são combinadas antes de qualquer coisa? Tarde demais, já foi dado o PLAY. 
    Aérea, como se não estivesse ali, mesmo estando em alma, ela se confunde naquele baralho, enquanto que os dedos dele manuseiam as cartas com maestria. O outro jogador é surpreendentemente filho-da-puta! E o que o coloca nesse patamar não é sua malícia com o jogo, ele disse que não era um dos melhores, que até desconhecia as jogadas e ela sentiu verdade em suas palavras. Ele nunca mentia! O que o coloca nesse patamar é sua despretensão. Ele não quer ganhar, mesmo ganhando. Tem cretino maior do que um jogador que não sabe jogar e ainda ganha? 
      Jogo perdido! 1 x 0
      Ele sai da mesa estapeando as coxas e dando lugar para o próximo. 
     A lição da jogatina foi uma única: ganha aquele que no final, está pouco se fodendo em levar o troféu para a casa.


 (Playlist: Stephen - Crossfire)