sábado, 29 de dezembro de 2012

                  As coisas ficam sempre muito claras dentro de mim, confusamente claras. Eu sei que carrego um vendaval no peito e uns três vulcões na alma, que essa calma e desespero não agradam e essas histórias avulsas, avulsas e tão profundas em mim, não cabem à compreensão de muitos; Mas entende você, meu bem, entende você que essa destruição e loucura são bonitas à minha vista e no fundo, bem no fundo, eu me sei. Eu me sei mutante, me sei agente, me sei modificada e modificante. Não digo metamorfose ambulante porque só Raul é digno desse título, mas ousasse eu ser um pouco mais rebelde e ter os dentes um pouco mais amarelos e até poderia. Ousássemos um pouco todos nós, e até poderíamos. Somos todos mestres e aprendizes quando nus, quando entregues, quando iluminados. E iluminantes. Somos os tolos sábios e não há sabedoria mais inocente e próxima ao sentir do que a tolice nossa, mas só quando em pelos, só quando cheios de porquês, de questões, de desafios, e de respostas, e de contrapropostas, e de apostas que nos façam valer os batimentos cardíacos. Se estamos na dança, vamos dançar. Se estamos na queda, vamos cair. E tudo com muita intensidade e da melhor ou da pior forma. Falando assim até pareço mística, não pareço, meu bem? A vida é o sacrifício. Esse é o misticismo. O sacrifício, sacro ofício de ser.







[Playlist: Deixa Estar - Los Hermanos]

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terça-feira, 27 de novembro de 2012




         

       As mãos dele a seguraram fortes pelas bochechas enquanto as pontas dos dedos acariciavam, emaranhados nos cabelos, a pele da nuca. Antes dos lábios os olhos se beijaram. O tempo parecia rastejar enquanto a alma dela se despia diante daquelas retinas. Eles se encaixavam (por cima, por dentro) enquanto a respiração pesada servia de música. Nenhuma palavra dita! Não precisava... Assim que as mãos dele largaram daquela bunda, imediatamente ela se virou, adorava o sabor.  – Não, não é assim. Como não? E enquanto ela ainda tentava entender ele vinha em sua direção, engatinhando e aninhando-se feito um gato vira-latas enquanto explicava todo seu pragmatismo. Sem saber definir como algo bom ou ruim ela só sorriu. Era novo, e ela não resistia a coisas novas. Depois de cravar os dentes em boa parte daquele corpo branco e já toda melada dele, ela se levanta, cretina, e começa a se vestir. Ele, tão sacana quanto (maldito!), ainda a devorava com os olhos e tratava de se enfiar naquela bermuda vermelha. – Olha só isso, para que serve? Perguntou ela, erguendo um livro fino de capa preta o qual as letras prateadas e garrafais intitulavam de SEGUNDO TESTAMENTO.  – Isso é para eu te enxugar, bem aí, no meio das pernas. ( m a l d i t o )


[Playlist: Mastodo – Oblivion]



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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

                        Não é sobre você, é sobre mim. Sobre esse estado ridículo de achar que qualquer coisa dita, não dita, feita ou não feita, é um sinal de alguma coisa. Acontece que poucos chegaram. Muitos se foram e eu até adorava a ideia. É mais seguro. Mas ai os pontos cardeais resolveram se instalar bem envolta do seu umbigo. Qualquer direção que eu ouse tomar me leva para um pedaço seu. Seja para seus pelos aloirados e seu nariz tão simétricamente perfeito ou para seus pés brancos e gordos, ou então para qualquer uma de suas mãos que instalaram em minha pele um tapa inflamado que pulsa toda vez que me lembro de você.



[Playlist: Korn - Alone I break]

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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

...



                                                                 
                                          Fotos excitam, isso não é segredo para ninguém. Mas haja criatividade nas poses pra mostrar algo diferente, algo ainda não revelado, mesmo que em cada clique a intimidade seja toda exposta. Foi ai, bem nessa hora em que você apareceu. Rompendo, quebrando todos os  paradigmas e explodindo qualquer possibilidade de expectativa frustrada. Mais do que fotos! Além das imagens seus textos são finos. São fieis ao que sente, por isso enfeitiça. Cada parte desse corpo branco, grande, instigante, cada partezinha me provoca um furor, uma vontade de mastigar sua pele, cravar meus dentes ligeiramente amarelados em cada espaço vivo que exista em você, que pulse. Porém, sua boca é o que mexe comigo, e como mexe. Além de ser totalmente sexual, de carregar esse sorriso puto que só você (só você, branca) é capaz de dar, sua boca é sim capaz de engolir muito mais do que uma outra boca ou um membro farto... Ela engole até mesmo quem apenas a observa. Impossível não se perder... Cada pedaço que constitui essa peculiaridade que é você, me caça, me amarra. Fui alçado por seus encantos como um polvo faminto alça sua presa com seus tentáculos. A cena dos seus cabelos desgrenhados espalhados por suas costas, a pele alva contrastando com esse cabelo preto breu, ahhh, essa cena é a minha maldição para o resto da vida. 





"Você me envocou, eu só fiz o que tinha que fazer. Eu apareci!"









[Playlist: Gotye - SomebodyThat I Used To Know] ;**



 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012



                              Sentado sozinho numa mesa de bar. As meias esgarçadas reveladas pela calça encurtada pelo joelho dobrado e apoiado num banquinho. Sozinho ele tamborilava os dedos na madeira enquanto a cerveja esquentava no copo. Lia repetidamente os nomes rasgados na madeira envernizada e dava um rosto diferente para cada um. O cigarro recém apagado no cinzeiro ainda tinha a marca de batom da boca que a pouco o tragara. Guiou os dedos magros até a bita e a levou a boca como um beijo. Enquanto sugava com força qualquer vestígio de tabaco por um momento ele sentia o gosto daquela mulher. Os olhos procuraram na mesa um nome, qualquer um. Samantha. Imaginou uma morena alta, cavala, de coxas grossas e um traseiro excitante, volumoso. Sorriu sozinho revelando o aparelho nos dentes e um corte na boca –vestígio de um beijo rasgado que havia ganho há dois dias atrás. Respirou fundo e matou a cerveja morna, esticando no copo um fio de saliva e o gosto de boca boêmia. – Manda mais uma, por favor. A mais vagabunda. Essa eu vou beber para a Samantha. 


 


Eu fui lá vender a minha alma que já esta coberta pela paz. Eu fui lá!



[Playlist: Toni Ferreira - Saber de uma alma]
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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

                         





                                    Era engraçado pensar que não tinha nada a perder. A música começava, a batida acelerada compassava a respiração fria. Ela tinha uma vontade de viver algo grandioso, algo que não coubesse em uma única noite. Se aprontou o mais rápido que pode, enfiou-se num vestido colorido e curto. O gritante das cores eram a denuncia de seu estado de espírito. Queria extravazar, transbordar até afogar alguém. Aquela era sua natureza e hoje ela iria respeita-la. Despretensiosa e descontraída, se perfumou apenas nas dobras dos cotovelos e joelhos, uma gota era o suficiente (...) Largar, pegar, perder, trançar e nunca definitivamente deixar de ter. Ela era a tentativa frustrada de uma escritora pouco conhecida. E aquelas palavras eram todas cuspidas por cada canto de seu corpo grande e branco. - Maldita gostosa do caralho!!!



Fique onde você esta, não faça barulho
Eu sei que eles estão vendo, eles estão vendo
Toda a comoção, e as brincadeiras infantis
Tem pessoas falando, falando
Você... seu sexo está em chamas
A escuridão do beco, o amanhecer do dia
A cabeça quando estou dirigindo, estou dirigindo
Os labios macios estão abertos, suas juntas estão pálidas
Parece que você está morrendo, você esta morrendo
Você... seu sexo está em chamas
Consumido pelo que está transpirando
Quente como uma febre, ossos se tocando
Eu poderia só sentir o gosto, sentir o gosto
Se não é para sempre, se é só por essa noite
Oh ainda é a melhor, a melhor
Você... seu sexo está em chamas
Você... seu sexo está em chamas
Consumido pelo que está transpirando
E você... seu sexo está em chamas
Consumido pelo que está transpirando.





 [Playlist: Sex on fire - Kings of Leon]
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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O rosto era de quem tinha gosto de trident azul. Imaginando, percorri o vestíbulo de sua boca com a língua, arranhando-me em todos seus dentes tão perfeitos. O detalhe pôde ser sentido naqueles lábios com gosto de freshmint e na perna lisa, que subitamente ficou áspera, arrepiada, quando os dois pares de seios se apertaram naquele abraço. A música de fundo era um clássico Disney dos anos 90, ao redor alguns gatos e muita coberta. Muitos também eram os dedos que corriam se esconder em cada dobra do corpo alheio enquanto o peito arfava sôfrego, implorando para que o toque não cessasse enquanto os espasmos não tomassem conta daquelas pernas bagunçadas, enfiadas umas nas outras. 




Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei ♪


[Playlist: Legião Urbana -  Acrilic on Canvas]

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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

I'm a Criminal.


Assim que viu a foto pirou, enlouqueceu. Apertava tanto os dedos nas mãos que a circulação até deixou de correr por aquelas extremidades. Raiva? Esbravejou, leu e re-leu cada linha escrita por ela, aquele demônio. Como pode ser tão safada? Que cu é um tabu, bom, isso é algo inquestionável. Mas aquele rabo era mais que um tabu. Era muito mais até que uma ofensa. Salvou, favoritou. Fez tudo o que pode para não perder a oportunidade de denegrir a imagem santa daquela branca. E o fez. Carregou para todos os lados, mostrou para todos os tipos de pecadores e falsos moralistas. “Como assim? Que blasfêmia” E cada par de olhos que via aquela foto, hipnotizados pela audácia da criança fotografada, passava o dia todo rindo, debochando – internamente se remoendo. A foto era linda, moralmente inaceitável. Mas e dai? Quais são os seus segredos? Onde suas mãos se enfiam quando um rabo branco, como aquele da foto, rebola sinuosamente só para você? Mas (..............) como todo veneno que só faz mal quando ingerido, o seu veneno eu cuspi, cuspi feito seiva quente servida direto na boca e o deixei escorrendo pelo queixo, gotejando sobre os bicos de meus seios. E para você só um aviso.. O rabo branco da foto, sim, daquela foto polêmica... Ele é muito mais saboroso quando lambido pessoalmente. O que você sente ai solitário enquanto lambe maliciosamente a tela, esse gosto é o gosto do recalque.

“O que diria o anjo? O demônio quer saber...”




[Playlist: Fiona Apple – Criminal.]

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quarta-feira, 11 de julho de 2012


Só ela. Só aquele demônio tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a branca soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante. (...) Ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sextas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas; era a palmeira virginal e esquiva que não se torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira; e assim era tudo nela; de contraste em contraste, mudando a cada instante, sua existência tinha a constância da volubilidade. Na vaga flutuação dessa alma, como no seio da onda, se desenha o mundo que a cerca; a sombra apaga a luz; uma forma desvanece a outra; ela era a imagem de tudo, menos de si própria..”


[Playlist: Closer - Kings of Leon]

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segunda-feira, 25 de junho de 2012

                          Gostoso é ser apertada em todas as partes do corpo, em cada excesso. Sentir a mão desconhecida pegando firme bem onde você queria esconder, achando que ninguém gostaria de olhar aquele pedaço. É divertido ser puxada pela mão, desviar de beijos e ganhar piscadelas. Divertido é estar de bem com sua auto-estima e poder se sentir confortavelmente linda mesmo em meio a tantas mulheres cinco números menores que você. As unhas descascaram, a maquiagem foi borrada, o salto machucou os dedos e as pernas estão como se eu tivesse sido atropelada. Dancei, dancei bastante. Dancei para todos os par de olhos e também para mim. Quando ele me ofereceu, num simples gesto indicando a própria bebida, eu recusei. Mentalmente repeti umas cinco vezes que eu deveria ter aceito. Peguei o telefone, fingi que ia atender. 1,92. Dançamos enquanto nos beijávamos, foi legal. 28 dia 26 agora. *o que eu estava dizendo mesmo...?* Ahhhhhhh... Gostoso é ser apertada em todas as partes do corpo, em cada excesso. Melhor ainda foi dizer que eu gostava do jeito que ele me olhava, logo após um beijo demorado e daqueles empolgantes, e ouvir ele dizer que eu gostava talvez porque fosse sincero. (...) Quando eu estava indo embora ele me deu um beijo, dessa vez estalado e na testa. Tem como não se sentir especial?

domingo, 17 de junho de 2012

DONO

                     Foi estranho encontrar com aquela imagem, com aquilo que já era conhecido, que eu até repudiava de alguma forma. Os jogos foram evoluindo até a desistência ser bilateral. E foi ai, exatamente ai, em que o jogo deixou de existir e então jogadas foram as almas. Ambas, expostas... Cada um sendo o dedo na ferida do outro. Revirando, sangrando, chorando. Divertindo e cansando!





Eu não quero só o hoje. Eu quero até não cansar.

[Playlist: Daniem Rice - The Blower's Daughter]

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Inquietudes...

             Derramando na pele nua todas as minhas inquietudes como se as feras rugissem mostrando os dentes. Como se os cios das coisas engravidassem a semente e como se nela embrionassem os meus pensamentos. E nessa densidade que me escorrega em fios translúcidos... A vida - Essa meretriz que tanto enfeitiça como se doa, brilha na luminosidade mais linda, e às vezes, penumbrenta invade feiticeira e mágica todos os seus fetiches. Ai de mim que grito aos quatro cantos do universo todas as palavras solfejadas no éter... Doida de pedra, louca, pirada. E se penso em pingo d'água, imagino a tempestade, e se penso em brisa morna, imagino a ventania desenfreada, e se penso em vinho, imagino os espaços dilacerados e escorregadios... Sonho feito menina, mas na verdade, sou apenas uma mulher parindo fantasias...



[Playlist: Lenine - Todas elas juntas num só ser.]

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sábado, 2 de junho de 2012

(...)


                    Sem perceber eu havia permitido. Tinha liberado por espontânea vontade aquela parte minha que só eu sei e posso cuidar. Cada um de nós tem dentro de si algo grandioso, qualquer coisa que há qualquer momento pode explodir e fazer de uma simples vida uma linda história. Esqueça tudo que te empurra para baixo. Sente como se estivesse no fundo de um poço fechado? Você possui dedos e unhas fortes e, por mais incrível que possa parecer você esta sentada em cima de uma mola que com um simples comando de seu corpo te ejeta para o alto. Para mais alto do que você pode imaginar. 
                        Esse outro alguém não pode mediar sua felicidade. Tome logo posse do que é seu. Se não, assim que você menos esperar toda sua auto estima terá minado e você irá se ver caçando, vasculhando entre palavras e olhares qualquer coisa que possa alimentar aquilo que você sente te fazer bem naquele instante, mas que com a escassez em alta apenas te destrói. Não se permita contentar-se com tão pouco. 


                 E naquele jogo de conquista, de necessidade de auto-afirmação (não quero desqualificar, até eu sinto necessidade de me auto-afirmar) ele achou que me enganava. Tá ok! Ele me enganou. Enganou a parte de mim que achava que ele seria responsável por me arrancar sorrisos, apenas sorrisos. Era bom estar com ele. Ele é gentil, é agradável, preocupa-se com meu bem estar, mas, quando longe, sente a mesma necessidade de proporcionar todo esse conforto e bem estar para ela. Não, esse ELA não têm destinatária fixa, pode ser qualquer uma. Q U A L Q U E R, sente o peso disso? Ele quer reproduzir uma minisérie e eu quero dar rumo á minha história. Desculpa, paixão, estou indo ser feliz, me realizar. Talvez eu volte sim, mas quando EU quizer e achar que devo. Solta logo essas rédias, você não está no comando.



Esta é a parte de mim
Que você nunca arrancará de mim, não
Esta é a parte de mim
Que você nunca arrancará de mim, não
Jogue seus paus e suas pedras
Jogue suas bombas e seus golpes
Mas você nunca destruirá a minha alma
Esta é a parte de mim
Que você nunca arrancará de mim, não.


[Playlist: Katy Perry - Part of Me] ♪

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Não me deixe...


- Mas você não era criança demais quando passou na tv?

           Claro que era. Em 2000 ela havia acabado de completar 9 anos. Nem dois dígitos tinha sua idade e já buscava de maneira escondida viver aquela intensidade. Grande na altura e ainda pequena nas ancas, seus cabelos saiam das raízes quase loiros e as sobrancelhas pouco se notava. A vinheta começava e seus pais tratavam logo de mudar o canal buscado algo mais apropriado para a filha ainda inocente. Os pés gordos chocavam-se contra os tacos de madeira e da porta do quarto ela gritava um boa noite insuspeitável. A noite seria ótima. Quase sempre com suas calcinhas de algodão e os mamilos miúdos e rijos pontando na camiseta infantil, ela tratava de abaixar o volume da tv no zero para que não ouvissem vozes e interrompessem sua interpretação. Os olhos grandes e quase verdes nem piscavam. Não queria perder uma cena sequer dos capítulos em que Anita entregava-se a Nando, a Armando e a Zezinho. Lenina sorria a cada vez que o rosto da atriz surgia na tv. Conseguia se imaginar naquele lugar, dentro daquelas roupas, casas, carros. Dentro de cada abraço e beijo, vivendo a mesma cena e sentindo as mesmas emoções. Assim que os ombros estreitos da atriz giravam na tela, ela copiava da maneira como conseguia, erguendo-se sob os dedos dos pés e ondulando os fios dourados na pouca luz que vinha da tv. O sorriso de ambas era o mesmo. Os dentes grandes, infantis, o cheiro de pele nova, o olhar de uma malícia quase inocente. Lenina não podia ouvir a música, mas copiava os passos de Anita como se conhecesse a melodia e como se vivesse a agonia lindamente cantada por Maysa Matarazzo.


01/06/2012

            Flashes de cenas vinham em sua mente enquanto o carro seguia fazendo aquelas curvas infinitas em uma estrada fria e contornada por árvores de eucalipto.
- O Nando tinha uma caminhonete também, não tinha? - ele perguntou sem olhar para o lado, segurando firme no volante e espremendo os lábios, um contra o outro.
- Hunrrum, ele tinha. – Verdade! O Nando também tinha uma caminhonete. Que seja, nada que possa ser muito significativo. Álias, claro que era significativo. Ele lembrava. Lembrava daquilo que ela mais amava, os detalhes. Continuou fazendo cara de nada e observando a paisagem tão interessante quanto seu olhar perdido e seu sorriso apático. Porque ele tinha que lembrar?
- Canta para mim, canta? - Pediu com um sorriso safado no rosto, aquele mesmo sorriso que ele sempre esboçava quanto tocava os bicos arrepiados dentro de seu decote discreto. Ela pensou por alguns instantes relutante, mas na verdade só esperava a introdução mental daquela tragédia.
-... Ne me quitte pas Il faut oublier. Tout peut s'oublier...     
                  
           E finalmente ela estava lá. Vivendo cada doloroso capítulo que há anos havia assistido pela tv. Lenina só não imaginava o quanto era triste ser Anita, Cíntia e quem pudesse ser para aquele homem que, assim como Nando, a tomava feito um taxi e descia na esquina sacudindo as calças. 


[Playlist: Maysa Matarazzo - Ne Me Quitte Pas ♪]





E quando vem chegando a noite,

Com um céu flamejante.

Vê como vermelho e o negro se casam

Para que o céu se inflame.

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domingo, 20 de maio de 2012

Memorial escolar


 

Taubaté, 18 de Maio de 2012.

   Engraçado falar de memórias. Sinto-me como um ser estranho, assim como a grande maioria. Mas essa estranheza não é linear, é contínua. Fico transitando em minhas vivências sentindo novamente (e com impacto) todas as emoções que vivi ao resgatar lembranças do meu processo de alfabetização.
    Sei da origem em meados de 1992, quando eu tinha apenas 1 ano de idade e já montava e desmontava um quebra-cabeças infantil de todas as formas possíveis, inclusive virado de cabeça para baixo. Meus pais dizem que até meu avô materno – de quem infelizmente não tenho recordações – adorava me bajular e mostrar aos colegas de truco como a netinha era inteligente. Todo o carinho que eu recebia apenas me estimulou a trabalhar meu potencial. No aniversário seguinte o presente havia sido um jogo de mesa de plástico, muita sulfite e giz de cera. Os desenhos, sempre espalhados pelas paredes da edícula, eram quase troféus para a família ainda pequena. Do jardim de infância me lembro de muito pouco, apenas de um escorregador em formato de castelo, das mesinhas pequenas, da altura da grade que separava-nos do primário e de um dia em que vomitei todo o lanche no estojo de madeira. Consigo lembrar claramente da primeira série. Meus pais orgulhosos por a filha mais velha (Letícia havia nascido dois anos antes) ter passado na provinha que a dava direito a uma vaga no colégio municipal. Lembro-me até hoje da textura do shorts, de poliéster azul marinho, arranhando meus joelhos, quase sempre esfolados. Na terceira série eu já escrevia bem, já lia alguns gibis e adorava inventar estórias. Sempre admirei a grafia muito bonita da professora Renata, as palavras sempre bastante redondas pareciam sorridentes. Ela tinha o que chamamos de ‘personalidade forte’. Franzia o cenho com tanta força que o espaço que ficava entre suas sobrancelhas era quase nenhum. Eu a admirava, achava bonita e gostava da maneira como parecia sempre forte. Não consigo me lembrar de amigos, lembro-me de emprestar lápis, cola gliter, caneta gel, mas de ter amigos não... Dos amigos eu não me lembro. Hoje consigo associar tamanha admiração pela professora com o desejo que sempre tive de me defender, ou melhor, de agredir como defesa (mais ou menos o que fiz por volta dos 15 anos). As crianças eram terríveis, quase sádicas. Arrisco dizer que essa maldade é intrínseca em toda criança e que só vai se retraindo com seu desenvolvimento cognitivo e social.
     Ainda na oitava série as coisas não eram muito diferentes. A princípio chega a ser estranho, mas me lembro de tão pouco que pareço ter passado por um ‘esquecimento’, como se um ano letivo se resumisse em apenas 2 ou 3 eventos em minha memória. O hábito da leitura sempre foi muito frequente em toda minha vida. Sempre tive contato direto com livros e muitos estímulos por parte de meu pai, que além de participar ativamente de minha rotina escolar, resolveu um dia ir com a minha classe a uma excursão ao zoológico de São Paulo. Lembro-me bem pouco desse dia, mas tudo que consigo recordar me traz uma sensação de bem-estar gigantesca. Lembro-me dos colegas de sala, até então muito maldosos comigo, achando o máximo meu pai resolver acompanhar a excursão. Faziam milhares de perguntas sobre a imensa máquina fotográfica que ele carregava no pescoço e até se ofereciam para tomar lanche comigo. Após me formar no ensino fundamental, fui para escola estadual cursar o ensino médio. Na escola Amácio Mazzaropi fiz dois amigos para a vida inteira, Michele e Diego. Um dia, realizando um exercício em sala de aula eles demonstraram bastante gosto por uma redação que eu havia feito, e me estimularam a escrever mais. O hábito da leitura sempre frequente facilitava em muito a prática da escrita, com a qual eu estava começando a me familiarizar. Cada pedaço de papel era um novo começo, todos (até hoje) sem nenhum final. No ano de 2009 resolvi criar um blog e deixar tudo que era meu, de minha autoria e indignação, tudo vomitado e registrado em algum lugar. Com a escassez dos estímulos de meu pai e amigos, comecei a escrever para receber comentários de internautas perdidos que por algum motivo acabavam passando por meu blog e lendo minhas linhas.
     Sonho em escrever um livro. Ainda não coloquei tal sonho como objetivo (vejo muita diferença entre o conceito dos dois) porque até hoje não consigo dar fim algum para minhas estórias. Até minha história eu imagino sem fim. Pretendo ir desabafando, idealizando, sorrindo com palavras e disparando contra sentidos até que eu possa, com a ainda viva prática da leitura, armar um arsenal de ‘felizes para sempre’ e finalizar tudo aquilo que um dia eu comecei.  

Lenina Disnei.

terça-feira, 15 de maio de 2012

     Eu não espero que você seja o-grande-amor-da-minha-vida, parei de acreditar nisso… Não quero que você me faça chorar. Não quero que você seja um motivo ruim na minha vida. Você é motivo de sorrisos, razão pra eu acordar num dia de chuva e tomar banho e mudar de roupa porque eu sei que você vai passar aqui… Não quero te odiar. Não quero falar mal de você pros outros. Pras minhas amigas. Quero falar mal de você como quem ama. "Pois é, ele nunca lembra de desligar o celular antes de dormir e sempre alguém do trabalho liga." Sabe, eu quero dizer isso. Que o máximo de irritação que você me provoca é me acordar de manhã cedo falando bobagens que parecem ser importantes no celular. Não quero que você me largue. Não quero te largar. Não quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinho, pra bater o telefone na sua cara. E eu não tenho medo que isso aconteça (eu nunca tenho), eu fiz isso com todos os outros. É só que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, com você, eu queria que desse certo. Que eu não te largasse no altar. Que eu não te visse com outra. Que eu não tivesse raiva. Que você não passasse a comer de boca aberta. Que você entendesse o meu problema com colchões sem lençol para s e m p r e. Que você gostasse e cuidasse de mim como disse ontem à noite que cuidará. Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga não estraga não estraga. Eu também vou tentar não estragar. Posso pôr um post-it na sua carteira? Mesmo que a gente não fique juntos pra sempre. Mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por você. Nunca esfrie o calorzinho que aparece dentro de mim quando você liga, sorri ou aparece… Mesmo que você apareça na porta de outras mulheres depois de me deixar. Me deixe um dia, se quiser. Mas me deixe te amando. É só o que eu peço.

[Playlist: My Girl - Tiago Iorc] ♥


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quinta-feira, 10 de maio de 2012

loja de conveniência.

    Me esfolou toda com aquela barba serrada. Eu ouvia o barulho dos pelos arranhando minha pele enquanto ele lambia todo o meu rosto e apertava meus excessos, dizendo querer morder toda aquela carne. Aquela boca além de linda era deliciosa, a língua me invadia tímida, mas em instantes estava percorrendo todo o céu da minha boca. Eu segurava firme naqueles cabelos grisalhos, enquanto minhas mãos se perdiam na extensão daquele corpo branco, quente, tentador. Não sabia que horas eram mas sabia que era hora de ir. Os minutos conspiravam a favor, rastejando sob a linha do tempo e me permitindo beber mais daquela saliva, permitindo que eu pudesse lambuzar meus dedos naquela intimidade latejante e vir embora com o cheiro daquele homem nas mãos. E o rastro de sua fome em meu pescoço...


[Playlist: Glory Box - Portishead]

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quarta-feira, 2 de maio de 2012







      Na cama, à noite, enquanto penso em meus muitos pecados e em meus defeitos exagerados, fico tão confusa pela quantidade de coisas que tenho que analisar que não sei se rio ou se choro, dependendo do meu humor. Depois durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente do que sou, ou de que sou diferente do que quero ser, ou talvez de me comportar diferente do que sou ou do que quero ser. Minha nossa, agora estou confundindo você também. 



 


[Playlist: Rihanna - Man Down]

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Justo a mim me coube ser eu.

     

     Toda vez que minha avó paterna me dizia, que o molde em que fui feita fora quebrado quando nasci, eu achava que ela estava me elogiando. Acreditava que somente eu era "única" no mundo. Aos poucos fui percebendo meu engano. Primeiro, porque ao invés de me tornar diferente, ser uma criatura única é o que me igualava a todos os seres humanos. Entendi que é parte da nossa condição humana sermos indivíduos exclusivos. Dela ninguém escapa. Em segundo lugar, porque essa exclusividade, ganha com meu nascimento, não me foi dada assim de mão beijada. Nem veio pronta, nem tinha um manual. Ela se parece com aquelas massinhas de modelar, que quando a gente ganha, ganha só a massa, não a forma, e o resultado final é sempre o fruto de um longo processo de faz e desfaz.
     Cedo percebi que jamais teria sossego e muito trabalho. Típico presente de grego, uma armadilha. Encontrei eco para o meu espanto nas palavras da Mafalda, a famosa personagem de Quino, o cartunista argentino, quando ela diz : "Justo a mim me coube ser eu!" Ser quem só a gente mesmo pode ser, é quase uma desolação. Quem eu sou e deverei ser? Minha individualidade é um mistério.
Quantas vezes eu não preferi ser outra! Se não, pelo menos duvidei se não seria melhor ter nascido em outra família, em outra época, com outra situação financeira, outra cara, outro corpo, outro temperamento... Ainda mais, porque, aparentemente, sempre soube resolver a vida dos outros muito melhor do que a minha própria.
     Para ser sincera, quando penso que o meu "eu" está em aberto, o que sinto mesmo é um grande alívio. Se eu tivesse nascido pronta, não teria conserto. E se não houvesse remédio para os meus erros e uma chance para os meus fracassos? E se eu não pudesse mudar de ponto de vista, de gosto, de planos, de opinião? E se eu não tivesse escolhas, nem alternativas?
    Mas também vejo um lado sombrio em ser um projeto em aberto, o de nunca ter certeza, sobretudo de antemão, de ter tomado a atitude certa, de ter feito a escolha mais apropriada – aquela em que não me traio. Quando percebo que um gesto qualquer vai afetar o meu destino, sinto medo, angustia, suo frio, tenho vertigens, adoeço. Aí, a tentação de pegar carona na escolha dos outros, ou no estilo de vida deles é grande, mas minha alma grita que não vai dar certo, e me lembra que o meu molde foi quebrado, que é exclusivo.
     Levei muito tempo para entender que minha exclusividade não está simplesmente em mim, ou na minha cor de olhos, nem nos meus talentos mais especiais. Ela está sempre lançada adiante de mim como um desafio, como um destino a que tenho que chegar e uma história a ser vivida. Minha exclusividade – eu mesma – apenas virá, quando eu puder afirmar que a história que vim realizando, só eu, e ninguém mais, a poderia ter vivido.
     É a isso que a personagem Amparo, no filme de Almodóvar "Tudo sobre minha mãe", se refere, quando afirma que ela é tanto mais autêntica, quanto mais perto estiver daquilo que projetou para si mesma. Fala com orgulho e alegria, revelando assim, que desvendou o mistério que envolve o problema de ser quem somos: autenticar nossa biografia. Avalizá-la.
Onde estou, senão no rastro de história que venho deixando atrás de mim, naquilo que vim fazendo e dizendo? Onde estou, senão nessa biografia que realizo e atualizo a cada instante, por meio das minhas decisões e do meu empenho?
     Hoje não importa mais se sou diferente dos outros, mas se faço alguma diferença neste mundo.
Dulce Critelli.


[Playlist: Put Your Records On - Corinne Bailey Rae ♪]

segunda-feira, 2 de abril de 2012



Aquele trecho que eu ouvi a reproduzi a minha adolescência inteira hoje me fez refletir por alguns minutos. "Não importa por quanto tempo você viveu, sua vida é contada por quantos minutos você ficou sem respirar" Algo mais ou menos assim. Acontece que eu passei a discordar disso. Passei a ser categórica ao afirmar que não, não é bacana alguém chegar na sua vida e te tirar o fôlego e a concentração. Comecou a fazer mais sentido o trecho da poesia do Cazuza, que diz "Quero um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida."
Eu não quero uma paixão. Não quero votos, alianças e todas essas cafonices com alguém que simplesmente tire meu ar, que me bagunce. A ideia de alguém aparecer, te desmoronar e tudo ser lindo, é legal. Em filme, em livros. Já pensou na idéia de encontrar alguém, alguém que você jamais esperou que pudesse, mas que chegou te enchendo de ar e inspiração? Que segura teus pés, mesmo depois de ter ouvido você dizer que os odiava. Que não gostava do tamanho, do formato, que tinha vergonha... E acaricia-los como se fossem os mais lindos? Que olha seus defeitos e suas neuroses com respeito? Que diz te amar e não cobrar por não ouvir um 'Eu também'?

(...) Nós, na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia.

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia...
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia... ♪

[Playlist: Cazuza - Todo amor que houver nessa vida]


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