domingo, 20 de março de 2016

          Feito gata arisca e desconfiada que passa por um processo de domesticação e aprende, ligeira, a se esfregar em pernas e ronronar, ela tem a malícia do rabo ereto, em riste, e a suavidade do balanço sensual que é o andar de qualquer felino. Acima de qualquer suspeita! Aqueles peitos pequenos e o jeito inofensivo e até abobado de observar qualquer coisa que seja com a boca ligeiramente entreaberta são seu álibi natural.
           "Mas aquele esplendor depende de certo perigo. Sua agonia está misturada ao seu orgasmo. D i l a t a v a - s e. Fugia... Os medrosos estavam sempre um passo atrás. Ela tinha a coragem de explorar suas entranhas mais obscuras, tangenciava a margem entre a brisa e a tormenta. Sorria, chorava, era uma espécie de contorcionista na alcova. Mordaz! Daquelas que o coração rasga-lhe a garganta..."
          Qualquer um se assustaria, oras. 
          NÃO! Ele não. 
         Aquela nova presença familiar, o rock bar de outrora, história, estórias e... desconforto! (é como aquela coceira desgraçada que a gente não consegue parar de coçar)
E ele se fez    e s p e l h o . 

.............. MAS QUE MERDA É ESSA?

         Por trás daqueles olhos também havia uma multidão. Fez sentido então o porque das mentirinhas bobas e cotidianas que tanto o divertem. Ele é plural!!!! 
           O primeiro beijo foi com um, o primeiro choro com outro, a primeira foda com um terceiro e a noite de amor (acredite se quiser) com um quarto rapaz. 
            Formou-se então um grande caos, um mar de gente. Enxurrada! 
            E desde então sua promessa é cumprida diariamente: 

" - Sacio suas fantasias intelectuais. "

(porra!!!!!!) 

           Só eu sei a sensação de borbulha, de ebulição, que se faz em cada parte de mim quando o vejo vindo para perto, aquele já conhecido jeito de andar (braços soltos e ombros retraídos) e me pergunto: quem será ele agora?
Nossos vazios se esbarraram.
Nossa multidão se encontrou.
O ontem já foi
O amanhã não existe
Só vivemos o agora.
Ele lá.
Eu cá...
Cada um mergulhado em seus desejos e liberdade, subindo juntos para pegar um bocado de ar.

Eu não sou a personalidade que ele precisa. 
Eu sou o que ele é. 


"É porque é você, 
é porque sou eu."








(Playlist: Alt-J - Breezeblocks) 



sábado, 5 de março de 2016

      Espremi cada pedaço meu para ver escorrer qualquer coisa que me valha, e... Cadê as palavras? 
      Só doeu! Doeu, sangrou, pingou e novamente eu saí rebolando (eu sou mestre nisso). 
     Tudo o que eu quero dizer não sai. Sinto-me muda frente a alguém que anseia por uma resposta breve, sinto-me de mãos amputadas frente a uma carta escrita em braile que tem urgência em ser lida. 
      O que esperar de alguém que mesmo cansada, empapuçada, nunca quer ou nunca sabe a hora de ir para a casa? De quem acende um cigarro no outro, fazendo fumaça e sentindo prazer nos alvéolos sendo surrados por todo aquele veneno?! Foda-se os óculos esquecidos, deixa o sol queimar... A pele, a retina. Eu quero evaporar. Parecer mais leve e flúida, pois dessa forma em que me encontro fica difícil eu me engolir. 
Eu me revelo! (estou exposta)
Mal paga 
Mal frequentada
...
Mas isso é meu. Sou eu! 
Será que eu não gosto tanto assim de mim? 

 Acha exagerado o que escrevo? Pois você ainda não viu o que eu apago.