Taubaté, 18 de Maio de 2012.
Engraçado falar de memórias. Sinto-me como um ser estranho, assim como a
grande maioria. Mas essa estranheza não é linear, é contínua. Fico transitando
em minhas vivências sentindo novamente (e com impacto) todas as emoções que
vivi ao resgatar lembranças do meu processo de alfabetização.
Sei da origem em meados de 1992, quando eu
tinha apenas 1 ano de idade e já montava e desmontava um quebra-cabeças
infantil de todas as formas possíveis, inclusive virado de cabeça para baixo.
Meus pais dizem que até meu avô materno – de quem infelizmente não tenho
recordações – adorava me bajular e mostrar aos colegas de truco como a netinha
era inteligente. Todo o carinho que eu recebia apenas me estimulou a trabalhar
meu potencial. No aniversário seguinte o presente havia sido um jogo de mesa de
plástico, muita sulfite e giz de cera. Os desenhos, sempre espalhados pelas
paredes da edícula, eram quase troféus para a família ainda pequena. Do jardim
de infância me lembro de muito pouco, apenas de um escorregador em formato de
castelo, das mesinhas pequenas, da altura da grade que separava-nos do primário
e de um dia em que vomitei todo o lanche no estojo de madeira. Consigo lembrar
claramente da primeira série. Meus pais orgulhosos por a filha mais velha
(Letícia havia nascido dois anos antes) ter passado na provinha que a dava
direito a uma vaga no colégio municipal. Lembro-me até hoje da textura do
shorts, de poliéster azul marinho, arranhando meus joelhos, quase sempre
esfolados. Na terceira série eu já escrevia bem, já lia alguns gibis e adorava
inventar estórias. Sempre admirei a grafia muito bonita da professora Renata,
as palavras sempre bastante redondas pareciam sorridentes. Ela tinha o que
chamamos de ‘personalidade forte’. Franzia o cenho com tanta força que o espaço
que ficava entre suas sobrancelhas era quase nenhum. Eu a admirava, achava
bonita e gostava da maneira como parecia sempre forte. Não consigo me lembrar de
amigos, lembro-me de emprestar lápis, cola gliter, caneta gel, mas de ter amigos
não... Dos amigos eu não me lembro. Hoje consigo associar tamanha admiração
pela professora com o desejo que sempre tive de me defender, ou melhor, de
agredir como defesa (mais ou menos o que fiz por volta dos 15 anos). As
crianças eram terríveis, quase sádicas. Arrisco dizer que essa maldade é intrínseca em toda criança e que só vai se retraindo com seu
desenvolvimento cognitivo e social.
Ainda na oitava série as coisas não eram
muito diferentes. A princípio chega a ser estranho, mas me lembro de tão pouco
que pareço ter passado por um ‘esquecimento’, como se um ano letivo se
resumisse em apenas 2 ou 3 eventos em minha memória. O hábito da leitura sempre
foi muito frequente em toda minha vida. Sempre tive contato direto com livros e
muitos estímulos por parte de meu pai, que além de participar ativamente de
minha rotina escolar, resolveu um dia ir com a minha classe a uma excursão ao
zoológico de São Paulo. Lembro-me bem pouco desse dia, mas tudo que consigo
recordar me traz uma sensação de bem-estar gigantesca. Lembro-me dos colegas de
sala, até então muito maldosos comigo, achando o máximo meu pai resolver
acompanhar a excursão. Faziam milhares de perguntas sobre a imensa máquina
fotográfica que ele carregava no pescoço e até se ofereciam para tomar lanche
comigo. Após me formar no ensino fundamental, fui para escola estadual cursar o
ensino médio. Na escola Amácio Mazzaropi fiz dois amigos para a vida inteira,
Michele e Diego. Um dia, realizando um exercício em sala de aula eles
demonstraram bastante gosto por uma redação que eu havia feito, e me
estimularam a escrever mais. O hábito da leitura sempre frequente facilitava em
muito a prática da escrita, com a qual eu estava começando a me familiarizar.
Cada pedaço de papel era um novo começo, todos (até hoje) sem nenhum final. No ano de 2009 resolvi criar um blog e
deixar tudo que era meu, de minha autoria e indignação,
tudo vomitado e registrado em algum lugar. Com a escassez dos estímulos de meu
pai e amigos, comecei a escrever para receber comentários de internautas
perdidos que por algum motivo acabavam passando por meu blog e lendo minhas
linhas.
Sonho em escrever um livro. Ainda não
coloquei tal sonho como objetivo (vejo muita diferença entre o conceito dos dois)
porque até hoje não consigo dar fim algum para minhas estórias. Até minha
história eu imagino sem fim. Pretendo ir desabafando, idealizando, sorrindo com
palavras e disparando contra sentidos até que eu possa, com a ainda viva
prática da leitura, armar um arsenal de ‘felizes para sempre’ e finalizar tudo
aquilo que um dia eu comecei.
Lenina Disnei.
E é quase como um livro, daqueles que você não consegue parar de ler, só que espera um novo "capítulo" pq não pode avança-lo... acho que é isso que me prende, e que deve prender várias pessoas que não se arriscam a comentar , rs.. :**
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