quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A única certeza

30 anos, um diploma, um casamento bem sucedido e um carro zero, financiado em 48 vezes. Os dedos dos pés dela, recém pintados de cor-de-rosa, ficam inquietos dentro da sandália. Os joelhos frágeis servem de apoio para as mãos de dedos gordos e pintados no mesmo rosa que as unhas dos pés. Ele é enérgico, inclusive ao volante. Ela sempre desconfiara que a mania dele de conversar olhando nos olhos, inclusive quando estava ao volante, não era muito segura. Os amigos no banco de trás estão sossegados. Os três pares de olhos cobertos por óculos escuro, mas ele, mesmo assim, insistia em procurar os olhares para quem ele dirigia aquelas palavras. Não fosse o suficiente ele também gesticulava e muito. Ela sempre ficava hipnotizada com os movimentos que as mãos grandes dele faziam no ar. Eram másculas, unhas sempre cortadas e com alguns pelos loiros, quase imperceptíveis. Ela sentia um aperto no peito e uma sensação de que sabia o que estava por vir. Algumas fotografias correm em seu pensamento. O dia em que nascera, festas de aniversário, álbum de formatura e casamento. Ele freia, não suficientemente rápido para que o carro não se chocasse com o da frente. Ela se lembra da batida da música e da certeza que sempre teve. Aquela hora era a hora em que iria morrer. Tudo escurece e as pálpebras pesam ao ponto de parecerem afundar os olhos. Ouve de fundo apenas um choramingo e um "Amém". Não sentia medo, sabia que seria assim. E as últimas coisas que lhe passam pela cabeça são que; deveria ter escolhido outra cor, nunca havia gostado tanto de cor-de-rosa. A outra é que finalmente ela teria a certeza de que não veria Deus.



“Quando parecer que o mundo a sua volta está desmoronando, e sentir que não há ninguém mais ao seu redor, e está calmo como um silêncio na escuridão. E soar como se o carnaval tivesse acabado...” ♪



E quando você consegue imaginar o dia da sua morte?



[Playlist: In the Dark – Tiesto]

Beijo ;*

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